terça-feira, 26 de novembro de 2013

Pelo fim da Taça RS

É triste, mas a primeira decisão da nova diretoria da Federação Gaúcha de Futebol de Mesa será convocar um debate sobre a extinção da Taça RS.

No liso ela não empolga e no cavado atingiu o fundo do poço com a participação de apenas nove entidades da FGFM no torneio de 2013.

Apesar da sua importância histórica inquestionável, o torneio, nas duas modalidades, ficou na rabeira de um oneroso e extenso calendário. Sem falar na questão da arbitragem. Cada vez mais um empecilho para mais associações participarem.

Somos em 20 federados no GS e foi um parto conseguir três para jogar o tradicional torneio. Ou se muda a disputa da competição (a associação que sediar garante a arbitragem) ou penso que o torneio que possui só foras de série em sua lista de campeões ruma para um final vexatório.

sexta-feira, 1 de novembro de 2013

Apoio incondicional


Na era dos mega eventos batendo a porta da pátria amada Brasil, só se falam em cifras astronômicas. Dinheiro despejado nas Arenas modernas para torcedores cheios da grana e mais preocupados com o cachorro quente do que com os escanteios a favor do seu clube.

Os grandes clubes do país aumentaram suas receitas graças ao dinheiro global, entretanto em vez de pagar as contas e racionalizar o mundo da bola saíram gastando sem parar aumentando os valores de mercado, atingido patamares quase iguais aos do primeiro escalão europeu - o Velho Continente, aliás, assiste clubes emergirem com finanças turbinadas com as fortunas de “mecenas” menos preocupados com a arte e mais com a limpeza das suas incontáveis moedinhas da sorte.

No meio desta não tão nova ordem mundial, clubes tradicionais do Brasil e Exterior perdem força. Regiões são extintas do mapa do futebol. Mas uma coisa sobrevive desde que a primeira bola foi chutada numa escola para jovens aristocratas em algum lugar da Inglaterra: a paixão do torcedor. Não o novo torcedor e sua camiseta da moda, nos referimos ao velho torcedor e seu amor sem limites.

A dor, conforme uma das definições do dicionário, é uma sensação emocional ou psicológica que causa sofrimento. Não é segredo que as artes se alimentam da dor. O genial Lupicínio Rodrigues a musicou. Álvares de Azevedo a transformou em lirismo poético. O mexicano Alejandro González Iñárritu fez dela sua inspiração para contar histórias deliciosas no cinema.

No esporte, entretanto, a palavra é ligada a derrota, ao fracasso. Mas assim como nas artes ela é essencial para apaixonar. O torcedor forjado no insucesso é mais fiel, mais fanático.

O caso clássico é o do time de futebol Corinthians que ficou durante quase 23 anos (1954-1977) sem vencer o Campeonato Paulista e viu neste período sua torcida aumentar de tamanho. Motivos que levaram a incorporar o apelido de fiel.

Não temos a pretensão de tentar descobrir o motivo deste fenômeno. Vamos no ater a contar histórias de outros clubes que mesmo na hora da dificuldade tiveram o apoio dos torcedores. E comprovaram que fiel não é o torcedor do Corinthians e sim o verdadeiro apaixonado por uma equipe seja qual esporte for. Como os casos no futebol são mais conhecidos, a maioria dos exemplos vão ser dedicados ao esporte mais popular da Terra.

Vamos conhecer a história de times gigantescos que colecionaram anos de fila ou mergulharam na segunda divisão. Equipes tradicionais que desapareceram por motivos financeiros e ressurgiram nos braços da sua torcida. Clubes pobres, mas populares que lutam diariamente por ocupar um espaço que já foi seu. O fanatismo sem limite dos hermanos.

Como isso não é uma história só de momentos felizes, vamos reservar espaço para a dor perene. Clubes tradicionais que amargam anos de desesperança. Fãs de equipes pequenas e sua eterna ligação com o fracasso. Um decréscimo diário na história e no número de aficionados nas arquibancadas.

Para iniciar um capítulo inteiro dedicado a um dos torcedores mais sofrido do mundo da bola: os colchoneiros.

Atlético de Madrid: uma história à sombra do rival

A cabeçada firme do zagueiro Miranda acabou com um pesadelo que já durava quase uma década e meia. O gol do brasileiro, marcado aos oito minutos do primeiro tempo da prorrogação, foi o do título da Copa do Rei. A vitória de 2x1 do Atlético de Madrid sobre o Real Madrid marcou o fim de um dos maiores tabuas do futebol mundial. Os Colchoneros venceram os Blancos depois de 14 anos sem um único triunfo.

Quando se pensa em futebol na cidade de Madrid vem um nome a cabeça: Real Madrid. Os merengues são um fenômeno de massa. Seus esquadrões ao longo dos tempos encantaram gerações e conquistaram milhares de fãs ao redor do mundo. Gigante, possui nove títulos da Copa dos Campeões da Europa, sendo o maior vencedor do torneio. Na Espanha divide seu reinado como o Barcelona, este visto por seus torcedores como o maior rival.

Em Madrid, ironicamente, ou quem sabe poeticamente, na rua Paseo de Los Melancólicos situa-se o estádio Vicente Calderon, lar do Atlético de Madrid, o segundo time mais importante da cidade. Seus torcedores são fanáticos a fazem do sofrimento um combustível para suportar as agruras ao longo dos anos de derrotas e triunfos do rival - o time incorporou tanto o fracasso a sua personalidade que as peças publicitárias do clube sempre fazem referência a senda de derrotas.

A palavra rival, aqui, só vale para os colchoneros. Os merengues desprezam o vizinho, tamanha a diferença histórica de conquistas entre os dois. A diferença se acentuou nos últimos anos, apesar do Atlético de ter vencido duas vezes na atual década a Liga Europa, o time passou longe de incomodar o rival no campeonato espanhol.

Em 2013 o clube quebrou um jejum de amargos 14 anos sem vencer o Real Madrid. A escrita foi quebrada justamente com um o título da Copa do Rei na casa do rival. Para os torcedores dos merengues essa derrota pode não significar nada, mas para os colchoneros foi a redenção de um inferno que parecia sem data para acabar.

A vitória de 2x1 foi comemorada durante toda a madrugada por seus fãs. Apesar de ter passado pela segunda divisão no início dos anos 2000, os torcedores nunca abandonaram o Atlético. Seu estádio, com capacidade para aproximadamente 55 mil torcedores, está sempre lotado.

Na história do Atlético, os episódios de insucessos podem ser maiores que os de vitórias. Mas o fanatismo de sua torcida está entre as maiores do mundo, fazendo os seus seguidores serem a maior glória do clube.
Se o dramaturgo Nelson Rodrigues fosse vivo escreveria mais ou menos assim sobre esta vitória redentora do Atlético de Madri: “Hoje os perdedores se sentirem menos perdedores, os idiotas menos idiotas, o marido que não pia em casa cresceu a crista e gritou com a mulher por vinte e quatro horas”.

A vida pelo futebol

A paixão dos argentinos pelo futebol poderia ser contada em um tango. Não existe povo mais passional quando o assunto é bola rolando. São muitos os casos de amor ao esporte, muitas vezes até levados às últimas consequências. Exageros que perdem o sentido e derivam em tragédias. Recentemente dois casos chamaram a atenção devido ao fanatismo conferido a um clube.
Em 2010, o Rosário Central foi rebaixado à segunda divisão nacional. Um de seus torcedores Juan Pablo Dandreta suicidou-se logo após a partida crucial por não suportar a dor do descenso. Outro episódio semelhante ocorreu um ano depois. Daniel Bramajo tirou a vida após a queda de divisão do seu amado River Plate.

Exemplo que vem de Avellaneda

Na virada da década de 1990 para os anos 2000, a Argentina vivia momentos de extrema crise econômica. Situação semelhante vivia o Racing Club de Avellaneda, que no ano de 1999 decretou falência. Ironicamente, a “Academia”, como é chamado o clube, veste as mesmas cores do uniforme da equipe nacional (a história conta que a camisa da seleção argentina de futebol foi inspirada no uniforme racinguista). A quebra do Racing pode ser considerada uma analogia a situação econômica vivida na época.

E assim como os argentinos saíram às ruas para protestar, mais de um milhão de torcedores do Racing invadiram a cidade para apoiar e recuperar o seu clube de coração. Assim, tornando-se a primeira administração futebolística na argentina por uma empresa, a Blanquiceleste S.A. O grande momento de superação desta crise foi na campanha do Campeonato Apertura de 2001, quando o clube sagrou-se campeão após 35 anos sem troféus nacionais. Neste mesmo ano, os argentinos destituíram Fernando de La Rua do cargo de presidente da nação.

Na Itália, Napoli e Fiorentina, hoje disputando a série A do Cálcio, enfrentaram a falência também e renasceram das cinzas graças aos seus torcedores.

O Rangers, da Escócia, é a nova vítima da má administração. Maior vencedor do país – são 54 Campeonatos Escoceses-, foi rebaixado a quarta divisão (última) após decretar concordata em 2012. O time de origem protestante já galgou o primeiro degrau, venceu sem sustos o primeiro desafio, mas ainda vai demorar, no mínimo, dois anos para chegar ao nível dos melhores. A boa notícia para o lado azul de Glasgow é que o Ibrox Stadium, campo do clube, segue lotando com mais de 50 mil torcedores por partida.

Schalke 04: um gigante feito pela torcida

O Schalke 04, da Alemanha, contava com a maior torcida do país, quando recentemente foi ultrapassado por Bayer de Munique e Borussia Dortmund. Mas o que chama atenção é a “seca” de títulos da equipe. O último título nacional foi nos tempos de Alemanha Ocidental, em 1958.

Seus fãs ultimamente “contentam-se” com um histórico de vitórias em títulos de menor expressão, como a Copa da Alemanha, onde seus últimos títulos foram em 2001, 2002 e 2011, a Supercopa da Alemanha de 2011, e a Copa da UEFA em 1997 (à época o terceiro torneio em importância na Europa). Sua média de público na Bundesliga é de 60 mil torcedores.
O clube conta com mais de 90 mil sócios. O Schalke tem uma histórica ligação com os trabalhadores das minas de Gelsenkirchen. Este um dos motivos da alta aceitação na cidade em que a mineração foi peça fundamental no desenvolvimento econômico da cidade.


A adversidade que faz a paixão

Nos anos 90, o Grêmio viveu grandes momentos no esporte, onde foi campeão da Copa do Brasil, Campeonato Brasileiro e Copa Libertadores. Para os torcedores do Internacional esta década foi levada como um pesadelo que parecia não ter fim. Mas ao mesmo tempo, a média de torcedores colorados no estádio durante a década foi superior aos gremistas.

Com a chegada dos anos 2000 o inferno astral passou para o lado azul de Porto Alegre. Quando estes foram testemunhas dos maiores momentos do clube, com a conquista da América e do Mundo em 2006.

Em 2005, o Grêmio jogou na Série B do Campeonato Brasileiro. Nesta mesma época o fanatismo dos tricolores aumentou significativamente, e assim como nos anos 1990, a maior média de público em Porto Alegre foi maior do lado daqueles que pouco tinham a comemorar.

No Brasil os maiores públicos entre as quatro divisões do Campeonato Brasileiro de 2011 se deu na Série D, a última divisão nacional. O Santa Cruz de Recife conseguiu uma média de 36 mil torcedores por partida. O Campeonato Paraense, que conta com pouca expressão nacional, obteve o terceiro maior número de torcedores em 2013. Onde esteve a frente do Rio de Janeiro e Rio Grande do Sul. Tudo isso deve-se ao fato de duas equipes: Remo e Paysandu.

O Paysandu atualmente está na Série B, mas perdurou por alguns anos entres as duas últimas divisões nacionais. Já o Remo, atualmente encontra-se sem divisão, por não conseguir classificar-se para a disputa da Série D de 2013. As duas equipes paraenses usam a torcida como seu grande trunfo, esta talvez seja a grande razão para o Clube do Remo ainda não decretar o seu fim.


Região Sul do Estado: fanatismo a toda prova

O magistrado Aldyr Rosenthal Schlee tem o futebol e o Brasil de Pelotas no sangue - ele é filho do escritor e jornalista Aldyr Garcia Schlee, criador, em 1953, do uniforme verde e amarelo da seleção brasileira de futebol.
Aos 53 anos, o magistrado orgulha-se de ir em quase todos os jogos, sempre ao lado da filha de 13 anos, do Xavante no estádio Bento Freitas.

“Quantas vezes na vida, ao me perguntarem para que time torço, respondi: sou Brasil. Claro que minha resposta sempre ensejou uma pergunta complementar: “Tá, mas tu és Grêmio ou Inter?”.Aí é que está: sou Brasil! Sou Xavante desde criancinha. Só Xavante! Futebol é paixão, afinal das contas. Por isso não consigo compreender como se pode dividir essa paixão torcendo por mais de um clube. Como Xavante, sou Xavante contra todos. Como Xavante, torço – por obrigação de ofício – especialmente contra o Pelotas (ancestral adversário), mas também contra os times da Capital (vampiros do futebol do interior), os da Serra, os de Rio Grande, os de Bagé... e os paulistas, e os cariocas, e os da Alemanha, os da Mongólia. O Barcelona que se dane (ai dele que venha aqui no Bento Freitas!). Por isso, para mim, qualquer jogo contra o União Frederiquense é final de Champions League, é o jogo da ‘nossa’ vida. Quem viu Ênio Fontana jogar com a número 9 sabe do que estou falando. Quem ouviu a Garra Xavante comandar nossa ‘massa’ entende isso. Quem quase morreu junto com o Milar (Cláudio Millar, atacante uruguaio falecido em 2009) é como eu sou”, enaltece apaixonado.

A declaração apaixonada de Aldyr carrega todo um simbolismo. O torcedor do Brasil considera-se, sem nenhuma modéstia, como o mais fanático do Planeta Terra. Primeiro campeão Gaúcho, em 1919, o Xavante já viveu dias mais gloriosos. Encastelado na segunda divisão desde 2009, quando um acidente com o ônibus do clube vitimou dois jogadores, entre eles um dos maiores ídolos do cube, o atacante Cláudio Millar e um membro da comissão técnica, o time da Região Sul do Rio Grande do Sul luta para voltar a elite.
Mesmo com repetidos insucessos, a torcida não abandona o clube. Ao contrário: a cada rodada o Bento Freitas recebe milhares de fãs. O Xavante se orgulha também de acompanhar o time em todos os jogos do clube no interior do Estado. Para um dia chegar de novo ao topo, como em 1985, quando o clube da cidade de Pelotas foi semifinalista do campeonato Brasileiro.

Amor parecido localiza-se a menos de 60 quilômetros do Bento Freitas. O estádio Aldo Dapuzzo é a casa do São Paulo, de Rio Grande. O time orgulha-se de possuir uma torcida tão ou mais apaixonada que a do Brasil. Seus jogos na segunda divisão estadual são acompanhados por quase 10 mil pessoas. Média inferior somente a dupla Grenal.

O São Paulo também tem um título Gaúcho. Ganhou o campeonato de 1933. De volta a primeira divisão, o clube mira voos mais altos. Liberar setores interditados do estádio e voltar a disputar uma competição nacional. Quem sabe repetir o maior público do Aldo Dapuzzo registrado no jogo contra o Flamengo, em 1980: 19.021. Se depender do apoio da torcida, o Leão da Linha do Parque vai voltar a rugir em alto e bom som!!



Sem apoio incondicional

O que tem em comum os cariocas América e Bangu, o goiano Goiânia e o time baiano do Galícia? Foram times respeitados regionalmente e até nacionalmente. Suas galerias de títulos não eram as mais fartas, mas estavam sempre lá brigando pelas primeiras posições nos campeonatos estaduais. Porém isso faz tempo, muito tempo.

Suas torcidas diminuíram com o passar dos anos, mas os que sobraram sonham com dias melhores. Dias em que essas camisetas serão novamente respeitadas e seus fãs vão encher novamente estádios como nas décadas passadas.


Segundo time de todo o carioca

No documentário Paixão Rubra, realizado em 2006 pelo diretor Marcelo Migliaccio, um dos personagens solta uma frase com a propriedade de quem dedica seu amor para um equipe decadente: “Torcer para o Flamengo é muita falta de imaginação, quero ver é torcer para o América”.

O filme possui 42 minutos e faz uma bonita homenagem ao torcedor americano. A película analisa a razão do torcedor que prescinde de conquistas. Os mais velhos lembram de antigos ídolos, como Alarcon, Canário ou o goleiro Pompéia. Os jovens falam de Robert, do time que chegou à final da Taça Guanabara em 2006.

Uma das passagens mais marcantes mostra um rapaz de, no máximo, 40 anos, ao lado dos pais, idosos, vendo um jogo do América na segunda divisão carioca em 2004. Lá pelas tantas, o torcedor começa a lançar impropérios contra os jogadores e a “podridão” do time. Visivelmente contrariada com o número de palavrões do filho, a senhora pede que ele se controle pois está sendo gravado. Aí vem toda a ira de um torcedor apaixonado: do nada, ele começa a xingar a mãe e o pai, os responsáveis, segundo ele, por sua dor eterna ao ter adotado o América e não um outro clube do Rio.

A torcida mostra um realismo na tela. Sabe que tem algo de franciscano torcer para um time com diminutos recursos financeiros, mas que um dia desafiou os grandes e, por muitos foi considerado do mesmo nível de Fluminense, Flameno, Vasco e Botafogo. Como
Neste tempo de esporte mercantilizado, e que cada vez mais perde a graça diante de tantos interesses econômicos, torcer por um time como o América é amar o futebol em estado puro. O time tem um passado do qual se orgulhar. Sua torcida já dividiu o Maracanã como na final do campeonato carioca de 1960 contra o Fluminense. Este conquista foi a última do Mecão que ostenta ao todo sete títulos cariocas, cinco deles na era profissional.


O time da fábrica

A história do Bangu Atlético Clube começa realmente em fins do século XIX. Dentro da Fábrica Bangu, técnicos ingleses, recém chegados, falaram do futebol.

Ao iniciar o século XX, já se praticava o futebol em Bangu, em uma área cedida pela Companhia Progresso Industrial do Brasil e que seria, como foi, um campo provisório, localizado bem ao lado direito das salas de trabalho então existentes.

Em 1933, o Bangu era um time temido. Foi o primeiro campeão carioca da era profissional. Repetiria a conquista em 1966. Em 1950, o time mais famoso do subúrbio carioca contratou , junto ao Flamengo, o principal jogador brasileiro da época: Zizinho. Algo inimaginável nos dias de hoje.

Marcelo Caju é militar da aeronáutica. Torcedor fanático do Flamengo, o carioca radicado em Porto Alegre nasceu no bairro de Bangu. Quando criança e adolescente frequentou o estádio de Moça Bonita. “Ainda era no tempo do Castor (o bicheiro Castor de Andrade era o patrono do Bangu Atlético Clube) e ele dava ingresso de graça pra molecada, mas avisava: só quero aqui torcedor do Bangu de verdade. A gente mentia e entrava, mas era uma mentirinha pequena, pois o Bangu era o segundo time de toda mundo ali no bairro”, lembra.

Entretanto, o Bangu ainda é o primeiro time de vários torcedores. Na série “Hei de Torcer”, da produzido e veiculado pala ESPN Brasil retratava os considerados pequenos clubes da capital carioca, colocando o time dono do estádio Moça Bonita no mesmo nível de Bonsucesso, Madureira, São Cristóvão e Portuguesa, da Ilha do Governador. No filme, o aposentado Vicente Alves enaltece: “Tudo que eu vejo do Bangu, se eu posso, eu compro, mas o importante é ser banguense e não é possuir produtos”. Invertendo a lógica comercial que impera no futebol, onde o ter é mais importante que o ser.

Vicente lembra com saudades dos times do Bangu nos anos oitenta. “Jogou muito craque aqui como o Mauro Galvão. No auge e não na decadência”, ressalta. Ele estava no Maracanã no dia 31 de julho de 1985. Mais de noventa mil pessoas assistiram o empate final do campeonato brasileiro daquele ano. O Bangu empatou em 1x1 com o Coritiba e perdeu nas penalidades. Nos dias atuais, Moça Bonita registra um público de no máximo quinhentos pagantes.

A dona de casa Anéia Alves, também no documentário, retrata a esperança de um torcedor de um atual pequeno: “Torcer pra gente empatar. Se der sorte a gente ganha...quem sabe 2x1”.

Era uma vez um o maior campeão de Goiás

No ano de 1974, o Goiânia Esporte Clube era o bicho papão do campeonato Goiano. Era 14 conquistas contra sete do Atlético, cinco do Vila Nova e três do Goiás Esporte Clube. Hoje, na segunda divisão estadual, os torcedores do Galo, além de nunca mais comemoraram um título, viram seus antigos fregueses crescerem no cenário regional e até nacional.

O emergente Goiás já ostenta 24 títulos estaduais, o Vila Nova 15 e o Atlético 12. A hoje reduzida torcida do Goiânia credita o longo jejum a construção do principal estádio da capital. O Galo foi o último campeão quando o torneio era disputado no Estádio Olímpico Pedro Ludovico Teixeira, depois que o Estádio Serra Dourada foi inaugurado, em 1975, o Goiânia não ganhou mais nenhum Campeonato Goiano.

Desde 2007 na segundona – este ano corre sério risco de cair para terceira e última divisão do campeonato goiano - , o time tem que jogar na cidade vizinha de Inhumas, 4º local diferente em que o Goiânia manda os seus jogos nas últimas quatro edições da competição, pois seu estádio original, o Estádio Olímpico Pedro Ludovico Teixeira foi demolido em 2003 ( ainda era o único time da capital que jogava regularmente no local) com a promessa da construção de um novo com capacidade para 25 mil pessoas.
E com tantas desgraças, o torcedor abandonou as arquibancadas. A média de público do time é de 188 torcedores por partida. Bem diferente dos milhares que empurravam o Galo a mais um título regional nos anos 50, 60 e 70.

Galícia?

Os mais novos conectados no mundo do futebol globalizado sabem de cor a escalação do Chelsea, do Milan, do Barcelona. Falam do Real Madrid com tanta propriedade quanto um vizinho do estádio Santiago Bernabéu. Mas será que algum dele já ouviu falar no Galícia? Talvez eles apontem a região na Espanha, terra do La Coruna, mas falamos de outro Galícia: o primeiro tricampeão baiano. Figurinha carimbada nos gols do Fantástico nos anos 70 e 80.

O Galícia Esporte Clube foi fundado em 1 º de janeiro de 1933 por imigrantes espanhóis provenientes da região da Galícia. O time de Salvador esteve no topo do futebol da Bahia durante sua primeira década de vida: campeão em 1937, sagrou-se o primeiro tricampeão baiano nos anos de 1941, 1942 e 1943, além de conquistar os vice-campeonatos de 1935, 1936, 1938, 1939 e 1940. Voltou a ser campeão baiano em 1968, obtendo ainda quatro vice-campeonatos em 1967, 1980, 1982 e 1995.

Rebaixado para a Segunda Divisão do Campeonato Baiano em 1999, e após tentar, sem sucesso, retornar à Primeira Divisão nas duas temporadas seguintes, o clube licenciou-se de competições profissionais em 2002 e passou a disputar o campeonato Baiano somente nas categorias de base. Em 2006, voltou a participar do torneio profissional, após quatro temporadas licenciado.

O estádio Parque Santiago, casa do Galícia (o time joga também na Arena Pituaçu), com capacidade para oito mil torcedores recebe, no máximo, 150 testemunhas por partida em 2013. O número é muito inferior aos mais de cinco mil apaixonados que apoiaram o time na final do campeonato baiano da segunda divisão, em 2007. O amor ainda existe, basta ser mais correspondido e a nova geração vai voltar a ver os gols do tradicional Galícia no Fantástico.

Região da Campanha do RS: economia e futebol vivem do passado

No começo do Século 20, boa parte da economia do Rio Grande do Sul concentrava-se na região fronteiriça ao Uruguai. Eram os tempos em que a agropecuária era a principal fonte de renda do Estado, e cidades como Bagé e Santana do Livramento viviam seus tempos de riqueza. Nestes mesmos anos o futebol da Campanha era um dos mais fortes no Campeonato Gaúcho. Da região saíram grandes times como o Armour, Grêmio Santanense e 14 de Julho, que representavam Santana do Livramento. O Grêmio Santanense chegou a ser campeão estadual no ano de 1937. Nos tempos atuais, apenas o 14 de Julho ainda está em atividade profissional.

Bagé talvez tenha os exemplos mais fatídicos desta época de ouro. A cidade conta com três títulos do Campeonato Gaúcho, os quais conquistados com o Guarany (só perde em conquistas de regional para a dupla Grenal) duas vezes e o Grêmio Bagé, uma.

Além dos dois títulos (1920 e 1938), o Guarany foi por três vezes vice-campeão gaúcho, já o Grêmio Bagé chegou a outras cinco finais, além do título de 1925. Hoje em dia as duas equipes encontram-se na terceira divisão do Rio Grande do Sul. Mas a memória e a paixão dos seus torcedores ainda residem nas suas pobres estruturas, e fazem disso uma resistência ao fim das suas atividades.

Por isso gostamos dessa loucura chamada futebol

Buscamos mostrar com estas historietas algumas justificativas que fazem do futebol uma cultura consolidada no mundo, digna de estudos antropológicos. Muitas vezes este esporte pode ser contado como uma analogia da nossa sociedade. Torcedores são cidadãos, explorados pela cultura capitalista dentro e fora dos gramados, clubes são o espelho de uma sociedade oprimida pelo capital, onde a economia funciona como uma gangorra, alternando nossas vidas de uma extremidade a outra.

Mas como dito anteriormente, nós os entusiastas, somos personagens da vida, e sabemos a dificuldade em vivermos nesta sociedade que a cada dia vem tornando-se uma confusão esquizofrênica na busca do seu espaço tornar-se cada vez melhor.

Diante das dificuldades do cotidiano, a maioria das pessoas sempre buscam a melhor maneira de driblar a adversidades, pois a desistência do viver é negada por nossa maioria. O futebol pode ser considerado um refúgio, o escape que buscamos ironicamente tornou-se um reflexo do nosso coletivo. E se não desistimos da vida, por que desistir de nossas equipes do coração? A delícia da nossa existência é a mesma que nos faz torcedores: nos tornamos mais fortes a cada obstáculo ultrapassado, a cada queda que nos obrigamos a levantar e conquistar nossos objetivos. Isso é o Ser Humano, isso é o futebol.

E gostaríamos de concluir este capítulo com um trecho do livro “Futebol ao Sol e à Sombra”, do genial Eduardo Galeano, que faz jus ao trabalho aqui apresentado:
“Por mais que os tecnocratas o programem até o mínimo detalhe, por muito que os poderosos o manipulem, o futebol continua querendo ser a arte do imprevisto. De onde menos se espera salta o impossível, o anão dá uma lição ao gigante, e o negro mirrado e cambaio faz de bobo o atleta esculpido na Grécia”.

quarta-feira, 30 de outubro de 2013

Outubro rosa


Quando eu era criança vi um filme americano chamado “Onde Estavas Quando as Luzes se Apagaram”. Não lembro de tê-lo visto mais de uma vez. Mas entrou no rol das minhas películas favoritas. Era uma comédia muito divertida sobre um blecaute.
A história termina numa maternidade nove meses depois com dezenas de crianças nascendo. Ou seja, ninguém ficou de bobeira durante a escuridão.

No Brasil se existe época onde a galera definitivamente não fica de bobeira é o carnaval. Sempre que alguém revela que nasceu em novembro já vem a mente: “Mais um filho do Carnaval”.

Na minha família as coisas esquentam definitivamente em janeiro. O início do ano é um tempo repleto de “amor” entre os casais. O resultado são nascimentos, muitos nascimentos, nove meses depois.

Em outubro meu pequeno bolso fica ainda menor. Haja grana pra comprar presente. Tem de tudo: pai, tia, sobrinha, afilhada...
Nenhum dos meus avós nasceu em outubro. Mas a partir daí foi deflagrada uma nova lei entre meus ancestrais: janeiro vem aí e o bicho vai pegar!

Meus avós maternos tentaram, mas não conseguiram. Na real, inverteram os papéis, pois a minha mãe nasceu no dia primeiro de janeiro – sim, a pobrezinha nunca teve uma festa de aniversário -, e o meu tio chegou no mundo em fevereiro.
Mas para não ficarem fora da moda, praticamente criaram uma sobrinha, a Neiva, mais conhecida como Tita na família. Ela botou o bloco na rua no dia sete de outubro.

A Tita era minha “inimiga” na infância. Ela adorava cinema e ficava até altas madrugadas vendo filmes em preto e branco na tevê. Terminava a maratona encarando séries como Tarzan. E pq minha inimiga. Simples: apesar da pouca idade, tinha, no máximo, dez anos, eu encarava filmes atrás de filmes até o sol raiar. Adoro filmes, mas a maior motivação consistia em bater recorde da Tita. A gente brincava um monte quanto a isso.

A Tita também faz um bolo de pudim inesquecível. Viajar até Pelotas significava comor o melhor bolo de pudim do Planeta Terra, o bolo de pudim da Tita. Na minha infância a gente vivia na cidade circundada pelo São Gonçalo, pois morávamos em Rio Grande. Bem pertinho.

Faz mais de vinte anos que eu não como o bolo de pudim da Tita, mas duvido que já tenham feito um melhor.

Do outro lado, meus pais paternos caprichavam durante o mês de janeiro. Minha avó colocou três dos cinco filhos no Mundo em outubro.

A Renata nasceu no dia 16 de outubro. Minha tia mais velha, ela pode-se orgulhar de um feito: entrou na Universidade Federal do Rio Grande do Sul várias vezes seguida. A última no ano passado. Passou no vestibular para Designer ( ou outro curso semelhante), ao lado da filha de 17 anos que ingressou no curso de Matemática.

Sempre de bom humor, quer acertar as contas com o passado e tirar só A no curso. Por enquanto a missão está sendo cumprida com sucesso.

A Renata veio morar em Porto Alegre no final dos anos 70, no apartamento que eu habito hoje. Eclética, adora fotografia, cinema, teatro e o Ney Matogrosso. A Renata tem um dom: cozinha muito bem. Seus doces e salgados são famosos na família.

No dia 11 de outubro nasceu a Gilberta (Gica para os íntimos), a mais nova dos cinco filhas da minha avó paterna.

A Gica é um furacão em pessoa. Intensa, botava o Voltaire abaixo poguiando ao som do punk rock. A nossa pouca diferença de idade, apenas cinco anos, fez da nossa relação um jogo de amor e ódio. Eu amava odiar a Gica na minha infância. Implicava direto com ela. Ou seja, apanhei muito, mas também honrei a minha fama de papa léguas e consegui escapar ileso de várias perseguições. Era muita adrenalina.

A Gica se destaca na minha família pela obstinação. Nunca se deitou em berço esplêndido. Sempre procurou ascender economicamente e intelectualmente. Mesmo formada em história e dona de uma locadora na Cidade Baixa, não se aquietou. Passou para biblioteconomia na UFRGS em 2013, mesma universidade onde completou o primeiro curso.

Para encerrar o mês de outubro entre os meus ancestrais, falta falar do meu Pai. O “Seu Cadica” nasceu no dia 11 de outubro de 1955. Do meu pai herdei alguns traços genéticos (infelizmente não a altura, pois ele tem 1,80 e eu sou um anão) como as entradas, os gestos e muitas paixões, a maior delas o Grêmio.

Eu sempre brinco com os meus amigos. “Uma vez eu disse pro meu pai que o Grêmio era a coisa mais importante na minha vida. Ele deu dois passos na minha direção. Me abraçou e disparou: ‘nunca duvidei disso. Que orgulho’”. Claro que é uma piada, mas só reforça a importância do time de Lara e Luis Carvalho nas nossas vidas.

Meus pais sempre nos colocaram acima de tudo. Entretanto, eu a minha irmã não fomos criados num ambiente mimado. Desde criança tínhamos tarefas leves para colaborar na casa.

Da minha infância carrego várias coisas legais, algumas mais legais que as outras. Não me vem na mente viagens alucinantes ou dias inesquecíveis. São outras memórias.

Uma vez no Aldo Dapuzzo (estádio do São Paulo de Rio Grande), devia ter uns dez oito anos, e entrei na onda da torcida do time de casa que furiosa gritava olé contra a equipe de Rio Grande que tomava uma socada do adversário. Meu pai pegou meu braço, levemente, e me levantou da arquibancada. “Vamos embora. Não te trouxe aqui pra fazer isso”. Lição aprendida. Nunca gritei olé ou vaie meu time de coração.

Eles faziam o rancho semanal no super toda a sexta-feira. Vivíamos sem excessos. Os dois trabalhavam como professores estaduais e batalhavam cada centavo. Mas qual fosse a situação financeira, nunca, eu escrevi nunca, faltavam os agrados. O agrado atendia pelo nome de bolachinha recheada (ok, não era o mais recomendado para duas crianças, mas os tempos eram outros).
A pujança econômica era traduzida em dois pacotes pra cada um na semana. A estabilidade significa um pra mim e outro pra minha irmã, a Flávia. Quando as coisas não iam bem, um pacote apenas para os dois. Sete bolachinhas, divididas de forma salomônica. Mas elas estavam sempre lá em menor ou maior quantidade.

Meu pai me ensinou outra lição: nunca é tarde para tentar. Quase chegando aos 50 anos passou no Mestrado da UFRGS. Depois foi aprovado num concurso federal e trocou Alegrete por Porto Alegre. Seguem tendo uma vida sem excessos. Dão valor as coisas boas da vida como conhecer novos lugares

Meus pais ascenderam economicamente. Hoje se dão ao luxo de viajar duas vezes por ano. Em janeiro vão trocar o calor senegalesco de Porto Alegre pelos países perto do Senegal. Vão dar uma banda no Norte da África e Sul da Europa. Mérito de quem ensinou milhares de adolescentes ao longo da vida. Quem sabe, inspirados pelas belezas das Ilhas Canárias, não produzam mais um herdeiro em outubro. Brincadeira: minha mãe já se aposentou nessa matéria. Ah, é bom lembrar que nem eu, nem a Flávia nascemos em outubro.

As últimas duas crias de outubro nasceram nos anos 2000.

Primeiro a Raquel. Ela é filha do meu tio Felipe, irmão da mãe. A minha prima nasceu no dia 29 de outubro de 2004
Para meu orgulho, o Felipe e a Simone, esposa dele, escolheram esta pequena pessoa para ser padrinho da Raquel.

Apesar de nos vermos pouco, ela mora em Alegrete, a Raquel é uma das poucas pessoas que consegue amolecer o coração deste velho ranzinza. Até (arghh) McDonald's eu como só pq é o lanche favorito dela – a Ângela tem uma boa parcela de “culpa” tb.

Desde quando ela era pequenininha rolou uma cumplicidade. Não tinha esse papo de dindo e afilhada, a gente se dava bem independente dos laços familiares.

A Raquel é engraçada e implicante que nem eu. A futura bailarina, não perdoa ninguém. Apesar da pouca idade, sempre tem uma piada pronta. Eu fico perplexo com tamanha criatividade e espontaneidade.

E no último dia 21, completou um ano a Laura, a minha sobrinha. Uma criança muda os teus valores e o significado do que importa mesmo na vida.

Foi uma emoção indescritível a primeira vez que ela ficou no meu colo sem chorar. Ou quando retribuiu um sorriso. Parece que o tempo não anda. Quando lembro da imagem vem um sorriso sem motivo...em qualquer lugar.

A Laura recém iniciou a escrever as suas histórias. Quem sabe eu não volte daqui a uns trinta anos (ok, vinte. pq não vou viver tanto depois de me empanturrar a infância inteira de bolachinha recheada) pra contra com mais detalhes a vida dela.
Um salve ao mês de outubro. Um salve ao mês de janeiro!!

sexta-feira, 18 de outubro de 2013

Quem acredita na Globo Mau?


A ESPN investiu mais forte do que nunca nas transmissões da NFL. Vão ser transmitidas mais de 100 partidas da temporada do Futebol Americano.

Curiosamente, hoje o programa Redação SPORTV abriu o link com os Estados Unidos falando exclusivamente de um documentário que aborda os riscos do esporte e como a NFL ignora a relações entre o futebol americano e danos cerebrais em ex-atletas.

Minutos depois o apresentador do programa, o jornalista André Rizek, leu um email de um telespectador. Mais ou menos a mensagem questionava o fato do Redação não apontar os mesmos risco em esportes como boxe e UFC, que fazem parte da grade da emissora de TV a Cabo da Rede Globo.

Rizek disse que não tratava-se de demonizar o esporte e reiterou que inúmeras vezes falou-se também dos riscos dos esportes de luta.

Porém, com um histórico pra lá de nefasto, como acreditar que a emissora carioca não ressaltou o documentário apenas pelo caráter da disputa comercial, deixando, mais uma vez, o interesse público de lado.

A Globo, em 2012, destinava poucos minutos da sua programação para destacar os Jogos Olímpicos de Londres. Parecia que a maior competição do Planeta tinha virado uma espécie de Jogos Abertos do Interior, torneio tradicional de São Paulo.

A mesma emissora já transmitiu eventos em reprise como se fosse ao vivo e costuma ignorar grandes competições quando não detém os direitos de transmissão.

Um histórico que faz até caras como eu, que odeiam Teorias da Conspiração, ficar com um pé atrás até mesmo numa simples matéria...

sexta-feira, 12 de julho de 2013

O infortúnio de Douglas

Douglas tinha 21 anos e uma só paixão: o Botafogo. Mas a paixão não era nem um pouco correspondida. Desde o exato ano do seu nascimento, 1968, o Glorioso nunca mais tinha conquistado uma taça.

Entretanto o amor de Douglas era incondicional. Fizesse chuva ou sol, lá estava ele incentivando os jogadores alvinegros.

O ano de 1989 parecia ser igual aos outros. No turno do campeonato carioca o time quase chegou... quase. O returno estava indo pelo mesmo caminho. Tomava uma roda do Flamengo de Zico, Leonardo e Bebeto. O placar apontava 3x1 na metade do segundo tempo e o quarto gol parecia questão de minutos, mas dois gols no final, o ultimo do volante Vitor, transformam uma provável goleada num empate heróico

Na geral do Maracã, Douglas chora ajoelhado ao lado dos seus primos Paulo Valentim e Quarentinha (o nome dos dois guris foi uma homenagem a dois grandes atacantes da década de 50).

Os três vão pra casa sorrindo e cantando a plenos pulmões:

Botafogo, Botafogo,
Campeão desde 1910
Foste herói em cada jogo
Botafogo
Por isso é que tu és
E hás de ser
Nosso imenso prazer
tradições,
Aos milhões tens também
Tu és o Glorioso
Não podes perder,
Perder pra ninguém
Noutros esportes
Tua fibra está presente
Honrando as cores
Do Brasil de nossa gente
Na estrada dos louros,
um facho de luz
Tua estrela solitária
Te conduz
Botafogo!

O final dessa primeira parte da história não poderia ser mais feliz: Botafogo conquistou o campeonato estadual de 1989. Na primeira partida da decisão contra o Flamengo, empate em 0 a 0, mas na segunda partida, o Botafogo consegue vencer o Flamengo por 1 a 0 com gol do atacante Maurício. No estádio Douglas delirava de emoção. A corrida desenfreada do ponta direita foi acompanhada com lágrimas por nosso herói.

O Fogão era campeão carioca, mas isso era apenas um detalhe na vida dele. Na festa da vitória, Douglas conheceu àquela que seria o primeiro e único amor da sua vida. A bela Mariana, sobrinha neta do mítico lateral esquerdo Nilton Santos, chamado de a Enciclopédia do Futebol pelo cronista Nelson Rodrigues.

Foi amor a primeira vista. Mariana e o nosso herói beijaram-se ao som do gritos de guerra das organizadas alvinegras. Ali nascia um amor, mas, mal sabia Douglas, que custaria outro.

Mariana e Douglas viveram três anos de sonhos. Viram juntos o Fogão ser bicampeão carioca em 1990. Transaram 812 horas ininterruptas para comemorar a façanha.

Douglas era felicidade pura. E para melhorar o alvinegro passava nas quartas por Bragantino, Corinthians e Cruzeiro e estava na final do campeonato brasileiro de 1992.

O Botafogo precisava de apenas dois empates para ser campeão brasileiro pela primeira vez. O adversário era o Flamengo, adversário que trazia enormes alegrias aos botafoguenses. Como esquecer os dois gols de Garrincha na final de 62, ou o gol de Maurício em Zé Carlos que encerrou o jejum Botafoguense.

Douglas avistava dias lindos no horizonte próximo. Doce engano...

Faltava meia hora para o clássico. A festa era linda no Maracanã. De um lado, os flamenguistas com sua faixa: somos todos menos alguns. Do outro lado, a fanática e sofrida torcida do Botafogo. Dia inesquecível aquele 12 de julho de 1992.

Nosso herói, Douglas, entretanto não olhava para o campo, nem gritava com os “irmãos” da Fúria Jovem. Seu olhar era em direção ao portão de acesso, onde já deveria a mais de hora ter cruzado Mariana.

Ele estava no lugar certo do estádio. Daquele ponto, os apaixonados Douglas e Mariana viram o Botafogo triturar seus adversários e chegar a final do campeonato brasileiro. Onde estaria Mariana?

Apita o juiz e começa a decisão. E nada da Mariana entrar no estádio. Douglas foi o único que não viu, pois olhava para o portão em vez do gramado, os que os 117 mil presentes ao campo foram testemunhas oculares. O lateral esquerdo do Flamengo, Piá, desce pelo flanco e rola na entrada da área para Júnior marcar. Festa rubro negra.

O Flamengo fez mais dois gols no primeiro tempo. Fim de jogo. Três a zero e a sorte do campeonato praticamente selada. Douglas viu pouco do jogo, pois Mariana não apareceu. Na saída, comentou com amigos preocupado sobre a ausência da amada. Um acidente, alguma morte na família inesperada?

Nada disso, mas Douglas só saberia o real motivo horas depois...

“Oi seu Agenor, desculpe incomodar, mas é que eu estou preocupado com a Mariana. Ela não apareceu no Maracanã”, questionava Douglas ao pai da moça, tentando esconder a voz de preocupação.

“Douglas, a Mariana não foi ao jogo. Ela está no quarto. Já chamo”, respondeu docemente o sogro, gaúcho de Santana do Livramento e torcedor doente do 14 de Julho.

Dez minutos e alguns gritos ao fundo depois, Mariana finalmente atendeu o nosso protagonista. “Douglas, gostaria de marcar contigo naquele bar em Madureira às quatro horas desta terça-feira. A gente precisa conversar”, falou seca e direta.

Douglas ainda tentou perguntar o motivo da ausência dela no jogo e a derrota desastrosa, mas nada a impediu de desligar prontamente o telefone.

Na hora e no dia marcado, lá estava Douglas, com os nervos a flor da pele, a espera do seu amor. Mariana não economizou palavras ou se estendeu nas explicações. Foi direta ao ponto e da sua voz saíram palavras cruéis que marcariam a carne e a alma do nosso herói para sempre.

“Estou apaixonada pelo Francisco e ele por mim”, bradou Mariana.

Douglas balbuciou apenas, mas o Francisco é...e ficou sem palavras e assim permaneceu durante quase três anos, em um estado catatônico. Qual o motivo? Quem é Francisco?

No parágrafo acima, Douglas ficava perplexo quando soube da paixão de Renata por Francisco.

Para entender melhor essa história, meus três leitores, vamos voltar no tempo, mais precisamente para o final dos anos 50 em Santana do Livramento. Um jovem Agenor dava a notícia aos seus pais: iria cursar engenharia em Porto Alegre. Em 1968 pintou a chance (já estava formado) de ir trabalhar na Petrobrás no Rio de Janeiro.

No Rio, em 1970, conheceu uma menina e apaixonou-se perdidamente por ela. O nome dela Miriam. Linda dos pés a cabeça. Sobrinha do lendário lateral esquerdo do Botafogo, Nilton Santos, a moça também se encantou por aquele rapaz bem afeiçoado, com gostos refinados e uma carreira promissora.

Dois anos depois nascia desse amor Mariana. Linda como uma Helena. Inteligente como a imperatriz Catarina da Rússia. Ousada como uma Mata Hari.Para desespero do pai, desde pequena, em função dos parentes cariocas, revelou sua paixão pelas cores alvinegras do Botafogo.

Quando tinha dez anos Mariana acompanhou os pais a uma festa da empresa. Era a primeira vez que a família de seu Agenor tinha contato com um jovem loiro e bronzeado de sol, um verdadeiro Menino do Rio. Recém-contratado pela empresa, Francisco exalava beleza por cada parte do jovem corpo prestes a entrar na vigésima quinta primavera.

Foi amor à primeira vista...Francisco e...Agenor estavam completamente apaixonados desde primeira cruzada de olhares. Por um tempo, Agenor negou o sentimento, mas depois se entregou de corpo e alma ao jovem “Apolo”.

Dona Mirian entendeu, mas não suportou os olhares de desaprovação da sociedade carioca. Foi para e Europa e permaneceu por lá durante anos. Mariana ficou sob a tutela do pai e de Franscico. Agora eles formavam uma família diferente, mas feliz. Copacabana, bairro onde residiam, era testemunha ocular de tanta felicidade.

Infelizmente, tal como numa peça Rodrigueana, a enteada se apaixonou pelo padrasto e foi correspondida. Por infortúnio, nosso herói, Douglas, estava no meio deste turbilhão.

Como relatamos no final do último capítulo, o impacto da notícia deixou Douglas catatônico.
Ele levaria três anos para se recuperar...continua

Epílogo:
Seu Agenor não suportou a dupla traição e matou-se enforcado com a mangueira do chuveiro. Seu corpo foi cremado e as cinzas atiradas no gramado do estádio do 14 de Julho.

A dor na consciência pela morte do pai foi demais para Mariana. Ela perdeu totalmente a razão e hoje vive em uma casa para doentes mentais em Petrópolis, na região serrana do Rio de Janeiro. A mãe à visita com frequência. Os funcionários da casa me revelaram que Dona Miriam fica olhando para a filha com um sorriso enorme no rosto e sempre profere a mesma frase: você me vingou, filha adorada.

segunda-feira, 27 de maio de 2013

Somos tão velhos



Não resisti a tentação mercantilista e fui ver Somos Tão Jovens. O Filme retrata o início da trajetória musical do Renato Russo. Na verdade enfrentei um dilema até a última hora em frente ao Guion Center, pois queria ver também o filme francês Depois de Maio, mas acabei cedendo aos impulsos do menino que adorava rock (e ainda adora) nacional dos anos 80.

As músicas salvam o filme. Ainda mais que são, na minha modesta opinião, as grandes composições criadas por Renato. Apesar da Legião estar longe das minhas bandas favoritas da época (este lugar que não tem nenhuma honra ou importância pertencem ao Camisa de Vênus, Titãs e Ultraje a Rigor), vejo o Renato Russo como um gênio. As músicas do Legião 1 e do terceiro álbum – Que Pais É Este – me faziam sair na rua com bandeiras vermelhas em busca da transformação social tão sonhada pela nossa geração. Aqui um mega parênteses: Vejo o Renato também como um cara sem vaidades exageradas ou narcisismo incorrigível, como meu ídolo máximo Cazuza. Até achava ele um cara altruísta – sempre lembro dele num disk MTV comemorando, apesar do gestual performático via se verdade em cada grito exagerado do cantor, o fato dos Raimundos estarem no topo das ligações do programa. Fecha mega parênteses.

E falta exatamente isso no filme. Apesar de abordar na maioria do tempo a fase punk do cantor e depois sua atitude solitária e reflexiva sobre a música e a sociedade onde vivia, a narrativa nos leva a crer que aqueles garotos classe média de Brasília só queriam “invadir uma festa ou chocar a sociedade burguesa da época em momentos pontuais” e não estavam nem aí para outras coisas. Como se o punk fosse uma moda passageira e não um atitude em relação a vida, independente do som que tu escuta.

O Renato era um ser político. Suas letras não eram carregadas de críticas, apenas em função da sua incomparável leitura dos acontecimentos e das pessoas ao seu redor. Essa leitura exatamente existia por que o artista tinha uma alma contestadora. Ele não lia apenas a sociedade como um observador antropológico, ele a queria mudar como um cantor de rock influente e engajado.

O filme é careta também quando trata da sexualidade do cantor. Na verdade ele sobrevive de dois aspectos: das músicas e da parte legal que é reconhecer os personagens. Mas o resto deixa a desejar. A emoção se restringe somente as canções, o que inaceitável quando se faz um filme sobre um cara que era intenso a maior parte do tempo, até mesmo quando mergulhava na mais profundas das viagens internas.

Somos Tão Jovens é feito para os atuais jovens e suas práticas bundamolescas, onde o máximo de contestação é criticar a escola que não deixa fazer guerra de bixiguinha no final do ano. Um cara que cantou para uma geração que tentou ao menos mudar o país merecia um filme melhor, bem melhor!!

quinta-feira, 23 de maio de 2013

Incendiando o vestiário

Que Centro Sul brasileiro que nada, que torneio de liso de Caxias contra Porto Alegre, que momentos decisivos de torneios internos: o futebol de mesa da regra brasileira do Rio Grande do Sul só respira Estadual de Equipes. Falta um mísero mês para a Riograndina entrar para a história e conquistar o seu terceiro título consecutivo nos cavados.

Para piorar, a situação das outras associações: os caras jogam em casa, com apoio da gigantesca e fanática torcida. Se fora eles brincaram (ganharam invicto em 2011 no Círculo Militar e só perderam um jogo ano passado em Canguçu) o que vão aprontar atuando nos seu nada misericordioso domínio.

Reza a lenda que o Silvio já mandou a logo do troféu para o Maciel. A imagem mostra os botonistas da ARFM fumando charutos cubanos no corredor de um hospital enquanto olham pra dentro de um berçário cheio de caminhas com nome das outras entidades gaúchas.

Essa imagem foi por email e, segundo dizem, foi interceptada por agentes secretos de Viamão. A logo causou revolta nas outras entidades que juraram vingança e querem mostrar na mesa que não são filhos dos riograndinos.

A fidalguia pelotense foi a primeira a reagir. Os botonistas da delicada cidade prometeram treinar muito. Alguns destemperados chegaram ao extremo da insanidade ao afirmarem que não vão na sauna com seus “amigos” para ficar disparando petardos contra goleiros imóveis durante o mês de junho.

Apesar de pagar apenas 17 por 1 na casa de apostas de Camaquã, a Academia é a associação com mais chance de tirar o título das mãos dos atletas da entidade localizada na Noiva do Mar. Atual vice-campeã, pode viajar para Rio Grande sem sua maior estrela: Marcelo Vinhas. O técnico Coxa Branca já deu declarações a imprensa que não jogaria mais cavado. Mesmo assim contam com um grupo estelar. Acostumados a ganhar, foram os últimos que tiveram a petulância de desbancar a anfitriã deste ano, ao vencer o torneio em 2010.

Pedrinho, com sua inteligência de dar inveja ao Einstein, prometeu uma estratégia perfeita para vencer o embate. E calar os mais de 50 mil presentes no local da competição. Ele já apelidou o triunfo de “O Riograndinazo”.

Pedrinho, sempre provocador, trará de sua turnê 11 mil pela Europa um souvenir para distribuir a atletas da Riograndina. O regalo vem sendo mantido em segredo maçônico. Nem os agentes de Viamão, comandados por Fábio Di Leone, descobriram o conteúdo da caixa.
Entretanto, informantes ligados a Associação de São Lourenço viram o astuto professor passar em lojas holandesas e depois tomar o rumo de um país na região central da África. A ideia, segundo esses investigadores, é usar o fanatismo por futebol dos jogadores da ARFM como uma arma para desestabilizar o imbatível escrete riograndino.

Perto da sede da Academia, fica o local de jogos dos craques da APFM, ou Pelotense como o Aldyr prefere. Sua escalação é uma incógnita, pois os treinos têm sido com portões fechados – a última vez que o blog foi atualizado o Fosca jogava na categoria Junior. A certeza é que o Cepel será o comandante do time. Em 2012, a APFM ficou a centímetros de vencer a Riograndina na semi. Desta vez nossos heróis que vestem laranja (o bom gosto dos pelotenses me impressiona) prometem não vacilar na hora H.

Gênio das palavras, Aldyr terá a função de montar as estratégias. “O furo do time é o Alex”, teria disparado numa entrevista polêmica para o jornal Diário de Pelotas. Outra motivação do esquadrão (péssimas línguas apelidaram os times de Pelotas de Esquadrão Purpurina – sacanagem) é vingar a derrota do Brasil para o Leão da Linha do Parque na decisão do primeiro turno da Divisão de Acesso.

“Apesar de votarmos nos candidatos do PP pra prefeito, somos filhos de uma cidade aristocrática, secular e berço da intelectualidade iluminista e positivista do Rio Grande. Chegou a hora de pegar o rebenque e expulsar esta portuguesada do nosso amado território brasileiro”, declarou Aldyr na mesma entrevista.

A APFM amarga um incômodo jejum: não vence este torneio desde 2004, porém já tiveram a honra de erguer o troféu em quatro oportunidades.

Na próxima coluna falaremos sobre as outras duas entidades de Pelotas e o inimigo que mora ao lado: a Afumerg